O poder da dúvida

Victor Brauner :: The Triumph of Doubt :: 1946 :: ©Art Institute of Chicago

 

Vivemos uma era de certezas – ou pseudocertezas. Modos de ser, de vestir, de se portar, respostas a questões ou atitudes frente a situações parecem ser únicos, óbvios e indiscutíveis. Em tempos de personal services (trainer, shopper, organizer, styler…!!!), livros de autoajuda e manuais de how-to – sem falar na bíblia contemporânea, o Instagram –, não atender ao must be, ao must have, ou não ter a imediata (e esperada) resposta a qualquer questionamento parece demonstração de ignorância ou fraqueza.

 

Em 2008, em entrevista a Franthiesco Ballerini, então correspondente do jornal O Estado de S. Paulo em Los Angeles – em um contexto de crítica à TV por seu potencial destrutivo da capacidade de reflexão – o premiado ator Alan Arkin fez uma interessante observação: ‘Hoje, quando se faz uma pergunta a um jovem, todos têm uma resposta, ninguém mais reflete para responder. Ninguém mais diz “deixe-me pensar sobre isso”. Até Einstein dizia isso o tempo inteiro, e ele era razoavelmente esperto.’

 

A dúvida é uma das maiores propulsoras do desenvolvimento humano, e a capacidade de reflexão um de nossos maiores patrimônios. Certezas e unanimidades não são apenas burras, mas também estagnantes – só é possível crescer, social e individualmente, por meio do constante questionamento. Quem não se permite dizer ‘não sei, preciso pensar sobre isso’, não conhece o prazer de ouvir a si mesmo – em toda sua alma, razão e sentimentos – e de construir a própria identidade.

 

Usufruir da liberdade de pensamento, exercitar competências emocionais e intelectuais, tomar propriedade sobre seu próprio modo de ser, de pensarm de vestir ou de se portar, bem como estar pleno e íntegro em respostas e atitudes perante a vida (ciente também das responsabilidades nelas implicadas) é um dos maiores prazeres que o ser humano pode proporcionar a si mesmo – e é a forma mais elegante de vivenciar a existência, cada qual tão própria quanto única.