Fronteiras do design

Henzel Studio :: Olive Street nº4

 

Há objetos que, mesmo produzidos com alta tecnologia, segundo um projeto específico e em escala industrial, apresentam-se aos nossos olhos com a força das obras de arte, únicas e manufaturadas. Colocam-se na relação com o observador mais como ‘sujeitos’ do que como ‘objetos’, surpreendendo por sua originalidade, emocionando por uma beleza única e instigando por subverterem padrões existentes. Esses objetos nos tiram de uma certa zona de conforto e exigem de nós um novo olhar e uma nova reflexão sobre aquilo que pensávamos conhecer.

 

Os tapetes criados pelo Henzel Studio são assim – questionam, testam e transcendem fronteiras que, muitas vezes, ainda persistem entre design (nesse caso, de interiores) e arte. O ponto de partida é um novo olhar sobre esse objeto, tão conhecido (?) de todos nós… E o resultado é arrebatador.

 

Não há dúvida de que, sem excelência técnica e alta qualidade de materiais, seria impossível materializar em lã traços e cores que mais parecem ter surgido de pinturas, grafites e aquarelas. Mas se esses tapetes falam à nossa alma é porque, ainda antes da competência executiva, alguém se dedicou com alma a transformá-los em um novo meio de expressão. Para tanto, questionou o convencionalismo, subverteu padrões, usos e finalidades, e com isso redefiniu não apenas um novo universo de cores, imagens e tratamentos para esse objeto, mas também a relação que podemos estabelecer com ele.

 

Inquietude, inconformismo e paixão são ferramentas fundamentais para abrir mentes e corações, permitindo que nos lancemos ao novo. E toda alma precisa do novo – (re)descobrindo formas, cores, usos e relações, podemos criar e desfrutar, a cada dia, de novas fontes de beleza e prazer.

 

Para saber mais: www.byhenzel.com

Todos os sentidos

John Nouanesing :: Paint or dye but love me :: 2008

 

‘Paint or dye but love me’ é o título do surpreendente projeto-conceito de uma mesa desenvolvido em 2008 por John Nouanesing, designer de produtos que vive na França e se dedica prioritariamente ao design de mobiliário. O desenho lúdico da peça, com formas que parecem estar em constante ‘suspensão’ e um vermelho vibrante e muitíssimo intenso, cria uma forte tensão visual que, longe de provocar incômodo, coloca um sorriso no rosto do observador, despertando nele uma certa sensação de prazer.

 

Assim como em ‘Paint or dye but love me’, por meio de suas criações o designer parece querer contar uma história – uma narrativa que nos faça depreender claramente o caminho conceitual percorrido desde o insight até o resultado final do objeto. Nouanesing diz que seu processo criativo é guiado por três princípios: observação, inovação e irreverência. No entanto, além desses, também o princípio do deslocamento pode ser percebido em grande parte de seu trabalho: ao transferir para a mesa rígida e estruturada a tinta vermelha fluida e desforme, ou as lentes coloridas dos óculos 3D descartáveis, John Nouanesing provoca no observador novas sensações em relação a objetos que já fazem parte de seu repertório, conferindo a ambos – ao objeto pré-existente e ao objeto criado – uma mudança de percepção e uma ampliação de significado.

 

Em seu livro ‘Das coisas nascem as coisas’1, Bruno Munari diz: ‘Uma coisa que aprendi no Japão é justamente esse aspecto de projetar que leva em conta todos os sentidos do observador, pois quando ele se encontra perante o objeto ou o experimenta, sente-o com todos os sentidos.

 

Mesmo que os resultados plásticos não sejam sempre belos, e mesmo que muitos de seus  projetos sejam efetivamente inexequíveis, os exercícios a que John Nouanesing se propõem revelam total domínio da metodologia necessária à criação de um objeto. Além de observar, criar e inovar, ele nos convida experimentar de outras maneiras o mundo que já conhecemos. E assim, explorando nossos sentidos, nos proporciona a descoberta de novos e divertidos prazeres.

 

Para conhecer outros trabalhos do designer, acesse johnnouanesing.com.

 

 1. “Das coisas nascem coisas”:: Munari, Bruno :: Ed. Martins Fontes, São Paulo, 1998, 380p

Luz e alma

Coral Lamp :: ©davidtrubridge.com

 

A luminária Coral, criada pelo designer neozelandês David Trubridge, foi lançada em meados dos anos 2000. Na primeira vez que a vi, estava instalada em um ambiente intimista ao fundo de uma conhecida loja de decoração no Soho, em NYC, e o efeito de luz e sombras criado por seus cheios e vazios era arrebatador. Impactada pelo contraponto que parecia existir na essência daquele objeto, me perguntava como seria possível obter um resultado tão delicado e orgânico a partir da montagem de um quebra-cabeças cujas peças são todas idênticas, racionalmente projetadas e industrialmente (re)produzidas.

 

Graduado em arquitetura naval na Inglaterra, na década de oitenta Trubridge morou em um barco por 5 anos, navegando ao redor do mundo. A experiência o levou ao desenho e à produção de mobiliário (inicialmente para embarcações), e o que começou de maneira despretensiosa como um pequeno negócio de caráter artesanal já em meados dos anos noventa transformava-se em uma grande empresa de atuação global.

 

Acreditando na perenidade como atributo do bom design e na arte como propulsora do desenvolvimento humano, David Trubridge desenvolve projetos tendo como pilares a consciência ambiental, a simplicidade e a inovação, sempre buscando obter o máximo de efeito com o mínimo de material. Seus produtos são feitos de madeira proveniente de plantações de manejo sustentável da Nova Zelândia e dos Estados Unidos, e todo processo produtivo é pensado para causar baixo impacto ambiental (substituindo, por exemplo, solventes químicos por óleos naturais). Guiado por um forte instinto de preservação ambiental, e apaixonado pelo mar e por viagens, é nas estruturas e formas presentes na natureza que o designer, até hoje, busca inspiração para cada novo desenho.

 

Conhecer essa história nos permite compreender melhor o impacto provocado pelas peças  criadas por Trubridge. Elas nos tocam não apenas por suas belas formas ou por seu efeito visual, mas principalmente por sua verdade. São peças que têm alma: seu resultado estético está assentado sobre uma ética, e isso é algo que, inconscientemente, conseguimos perceber. Como? A alma, quando existe nas coisas, conversa diretamente com nossa alma – e é nessa conversa que residem as razões do gosto e do prazer que somos capazes de sentir.

 

Para saber mais: www.davidtrubridge.com